Torcida LGBTQIAP+ do Botafogo FR Convoca Encontro Estadual da Diversidade
- joserobertomedeiro
- 19 de jan.
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Atualizado: 18 de abr.

Com o início do Campeonato Carioca, a Torcida LGBTQIAP+ do Botafogo FR assumiu papel de vanguarda na busca por um espaço onde todos, todas e todes possam torcer com liberdade, sem medo de represálias ou discriminação e tomou a iniciativa de lançar o 1º Encontro Estadual de Torcidas e Torcedores LGBTQIAPN+.
O evento está em sua fase de concepção, sem uma data, programação e local definidos, mas terá a cobertura da Camisa 24 e do Jornalismo 24, que apoiam a iniciativa com a expectativa de que seja um divisor de águas na luta pela inclusão, diversidade e combate à homofobia no futebol carioca e fluminense.
" — Nenhum direito, de nenhum povo, foi conquistado sem organização e luta. A Torcida LGBTQIAP+ do Botafogo FR mostrou que sabe disso e ocupou as arquibancadas e agora faz um chamado para a coletividade. Estamos otimistas e queremos auxiliar a realização do evento, assim como ajudaremos todas as iniciativas pró-inclusão, democracia, popularização e diversidade no futebol. — declarou José Roberto, fundador do Camisa 24 e do Jornalismo 24.
O I Encontro Estadual de Torcidas e Torcedores LGBTQIAPN+ do Rio de Janeiro, convocado pela Torcida LGBTQIAP+ do Botafogo FR, é uma iniciativa histórica que fortalecerá ainda mais a união entre torcedores e torcedoras LGBTQIAPN+, criando uma rede de apoio e visibilidade para que todas as arquibancadas, cariocas e fluminenses, sejam espaços inclusivos e de respeito.
A Torcida LGBTQIAP+ do Botafogo
A Torcida LGBTQIAP+ do Botafogo FR surgiu em 2020, nas palavras de seu fundador, Cristian Lins, “pela necessidade de unir os torcedores da comunidade LGBTQIAP+ do Botafogo que acabava não indo aos jogos devido ao aglomerado de casos de LGBTfobia”.
O preconceito não acabou com a fundação da torcida, mas a organização dos membros da diversidade botafoguense já mudou a realidade para o segmento, que ocupa as arquibancadas do Engenhão coletivamente. Com sua atuação, a torcida mais que torce pelo glorioso, ela democratiza a arquibancada, o futebol. Os Botafoguenses da comunidade LGBTQIAP+, pela atuação da torcida, tem o direito de torcer pelo seu time em qualquer estádio que o Glorioso jogar.
Logo após sua fundação, sob a liderança de Cristian, homem trans botafoguense que até hoje é o líder da Torcida LGBTQIAP+ do Botafogo FR, foi conquistando espaço e legitimidade nos espaços alvinegros. Em menos de um ano de existência a torcida já conquistou reconhecimento institucional sendo apresentada à comunidade alvinegra, em uma grande conquista para o movimento LGBTQIAP+ alvinegro.
Essa grande conquista veio após convite da Centrum e do próprio Botafogo à torcida para participação no lançamento da campanha “Amor é Amor”. Tal convite foi feito pouco tempo após a fundação da torcida, ainda na gestão do presidente Nelson Mufarrej (2017-2020). A atividade contou com a confecção de uma camisa em homenagem ao Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+ (28 de Julho) e a apresentação oficial da mais nova torcida do Glorioso.
“- Nossa torcida está crescendo e se fortalecendo, buscando sempre ajudar outras pessoas LGBTQIAP+ a estarem nos estádios em que o Botafogo jogar, seja junto conosco ou não.”- disse Cristian.
Torcida é reconhecida institucionalmente pelo Alvinegro de General Severiano (Créditos: Instagram do Botafogo)
A liderança alvinegra dedica seus esforços para a construção de um futebol que cumpra seu papel social e seja o patrimônio popular como é sua vocação. Para isso, no entanto, o botafoguense sabe que precisa ir além dos muros do Nilton Santos. Nasceu assim a ideia de convocar torcedores e torcidas LGBTQIAPN+ dos rivais para um encontro estadual para debater questões de interesse mútuo e organizar a atuação das torcidas na defesa do fim de toda homofobia e transfobia em todos os espaços do futebol carioca e fluminense.
“ — Quero reunir o máximo de torcedores e torcedoras LGBTQIAP+ para juntos podermos conversar sobre nossa realidade, os desafios a superar, construirmos cartilhas, panfletos, organizarmos palestras, festas e outros eventos ao longo do ano. A intenção é fortalecer os laços da comunidade, garantir uma agenda própria do nosso segmento ao longo do ano e as arquibancadas cariocas serem um espaço de resistência contra a LGBTfobia.” - afirma Cristian.
Encontro Convocado no Final de 2024
Foi através das redes sociais que a Torcida LGBTQIAP+ do Botafogo FR convocou o encontro, pouco antes do Natal de 2024. De lá pra cá, Cristian e os membros da torcida têm trabalhado arduamente na busca de contato com os torcedores de outros times para a construção do evento que deseja realizar ainda nos primeiros meses de 2025.
“ — Já convidei torcedores do Vasco da Gama, falei com amigos flamenguistas, e estou na busca de contatos de torcedores do Fluminense que sejam membros da comunidade. Buscamos reunir torcedores de todos os times do Rio de Janeiro para organizar nossa atuação e debater temas importantes para nossa comunidade.” — disse o líder da Torcida LGBTQIAP+ Botafoguense.
Ideologicamente convicto dos direitos das pessoas LGBTQIAP+, Cristian é categórico ao falar do direito das pessoas da comunidade ocuparem arquibancadas e outros espaços ligados ao mundo do futebol:
“ — O nosso amor ao futebol é o mesmo que o de qualquer pessoa. O dinheiro que investimos para ir aos jogos ou comprar produtos dos nossos times tem o mesmo valor que o dinheiro que pessoas de fora da comunidade gastam. Então temos que ter os mesmos direitos” — falou com convicção, Cristian.
A Torcida LGBTQIAP+ do Botafogo FR é um exemplo de coragem e da força coletiva da organização da comunidade. Sua existência e atuação dentro e fora dos estádios não é apenas um exemplo de resistência, mas também um símbolo de conquista e transformação.
Um trabalho sólido que, mesmo com a troca de presidência no fim do ano de 2020, conseguiu manter a boa relação com a gestão alvinegra seguinte, do presidente Durcesio Mello e, hoje, a torcida também tem diálogo aberto com a SAF de John Textor.
Exemplo Alvinegro Gera Esperança em Estádios Melhores
Nenhuma vitória de segmentos vítimas de preconceito, ao longo da história, foi fácil. Nenhum direito das classes populares e trabalhadoras foi conquistado sem muito esforço. O trabalho iniciado por esses torcedores e torcedoras botafoguenses, motivados pelo amor pelo futebol e pelo seu time de coração, conseguiu construir uma nova realidade nas arquibancadas alvinegras. Mostraram, na prática, que o futebol pertence a quem ama, a quem é, sem qualquer imposição de limites, e a chave para isso foi a união e organização da comunidade.
“ — O que o Cristian conseguiu construir até aqui não é pouca coisa. Como sujeito que sofreu com a homofobia das arquibancadaas, me emociana e gera profundo respeitto tudo que ele conseguiu construir até aqui. As conquistas dessa torcida são marcos históricos na luta contra a LGBTQIAP+fobia no futebol carioca. São a prova de que com liderança, organização, trabalho e união, podemos conquistar nosso espaço. O futebol é um patrimônio do povo, pertence às camadas populares, aos trabalhadores, às crianças, às mulheres, a todas as cores da nossa diversidade. Não podemos permitir que ele se resuma a mero privilégio de qualquer segmento que seja, nem pelo viés econômico e muito menos pela orientação sexual.” — afirmou José Roberto, do Camisa 24.
A união das torcedoras e torcedores LGBTQIAPN+ é a chave para a conquista de um espaço onde, em cada canto das arquibancadas, todos e todas possam se sentir em casa, torcendo pelo seu time, vivendo o futebol com orgulho e dignidade. O encontro, quando da sua realização, contará com o apoio e cobertura dos portais Camisa 24 e Jornalismo 24.
“ — Vamos mobilizar os núcleos do Espaço Orgulho Torcedor para participar. Embora ainda sejam núcleos jovens, essa é uma oportunidade ímpar e não mediremos esforços para uma participação massiva e diversa da comunidade.” – comentou José.
A realização de um encontro massivo, que entrará para a história, é o segundo passo para construir uma nova realidade para a comunidade LGBTQIAP+ do Rio de Janeiro, superando toda masculinidade tóxica que impera nos meios do futebol. O primeiro passo já foi dado por Cristian e pela Torcida LGBTQIAP+ do Botafogo FR.
O futebol, como patrimônio popular, é de todos, todas e todes. As arquibancadas, berço da paixão e da emoção que unem milhões, não podem ser espaços de exclusão ou preconceito. Pelo contrário, elas devem refletir a diversidade de nossa sociedade, abraçando a pluralidade de vozes e identidades que formam a grande torcida brasileira.
Camisa 24 Quer Construir Pontes e Aproximar Coletivos Aliados
É fundamental que a ocupação das arquibancadas pelas torcidas LGBTQIAPN+ e pelos núcleos que surgem nos coletivos e nas torcidas tradicionais seja vista como um movimento de afirmação de direitos e de luta por um ambiente inclusivo, acolhedor e democrático.
“ — Essa é uma batalha que só termina com a vitória da democracia e da diversidade. Enquanto ela não estiver consolidada, temos certeza de que a Torcida LGBTQIAP+ do Botafogo FR, a Camisa 24, o Jornalismo 24, e o Orgulho Torcedor estarão lutando para alcançá-la.” - afirmou José.
O fundador do Camisa 24 e do Jornalismo 24 lembrou que a luta por um esporte popular e democrático, com inclusão, diversidade e livre de preconceitos, não se restringe apenas a torcidas LGBTQIAPN+:
“ — Após minha experiência com a homofobia no futebol, em 2013, conheci muitas entidades e organizações que merecem todo nosso respeito e são aliadas na luta pela diversidade e merecem ser citadas. Torço e trabalharei para ver nesse encontro, além dos torcedores e torcidas LGBTQIAPN+, grandes aliados da luta contra os preconceitos e por um futebol democrático, plural e popular. Cito como exemplo as torcidas antifascistas, os movimentos pelo futebol democrático, o movimento de mulheres da arquibancada, o Flamengo da Gente, a Nação 12 (primeira torcida do RJ a abolir os cânticos homofóbicos de seu reperório), a Vascomunistas, os Tricolores de Esquerda,dentre outros coletivos, movimentos e torcidas que combatem a elitização e defendem a democracia e a diversidade dentro e fora dos estádios.” - conclui José Roberto.
Sobre o autor
José Roberto Medeiros do Nascimento - www.joseroberto.jor.br
Caroca de 40 anos, Fundador do Camisa 24, do Jornalismo 24 e do Orgulho Torcedor. Historiador formado pela Universidade Gama Filho, Jornalista formado pela FACHA. Homossexual, apaixonado por futebol, torcedor do Flamengo. Militante por um mundo mais justo e livre de preconceitos desde 1997. Atuou no movimento estudantil por mais de uma década, trabalhou com a institucionalidade e há quase 15 anos trabalha com comunicação sindical e partidária. Atualmente participa de coletivos que lutam pela democracia, popularização e diversidade no esporte cujo nome não será citado, pois as opiniões expressas no Camisa 24 não representam nenhum partido, coletivo, entidade ou coisa do gênero. Representam apenas a opinião de quem as escreve, no caso desse texto o Jornalista e Historiador, José Roberto
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