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Transexuais Sob Vigília no Futebol Inglês

  • joserobertomedeiro
  • 14 de abr.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 18 de abr.


Uma bola de futebol coorida com as cores da bandeira trans, em cima de um gramado verde com o céu azul com nuvens brancas ao fundo.
A medida foi anunciada como inclusiva, mas na prática impõe mais barreiras para transeuxais.no futebol da Inglaterra.

A recente decisão da Football Association (FA), a Federação de Futebol da Inglaterra, de permitir a participação de mulheres trans no futebol feminino com base em critérios mais rigorosos de elegibilidade levanta um debate profundo sobre inclusão, equidade e, sobretudo, vigilância — um retrocesso disfarçado de avanço.


De acordo com a nova política, mulheres trans poderão competir caso mantenham níveis de testosterona abaixo do limite estabelecido por pelo menos 12 meses, comprovem tratamento hormonal contínuo e passem por revisão anual. Além disso, a FA institui a polêmica "observação em jogo", onde um oficial poderá assistir às partidas para avaliar se a jogadora representa “risco” à segurança das adversárias ou à justiça competitiva. Caso o desempenho da atleta cause “suspeitas”, a federação se reserva o direito de negar ou revogar sua participação.


Esse critério de vigilância baseada em performance não só expõe a atleta trans a um nível extra de pressão psicológica como compromete o próprio desempenho em campo. Trata-se de um processo subjetivo, enviesado e absolutamente sujeito a preconceitos, que legitima a desconfiança constante sobre o corpo e a capacidade dessas atletas. O que deveria ser um espaço de inclusão se transforma em um palco de avaliação e exclusão velada.


É preciso denunciar com veemência: o critério de observação não é científico — é uma forma institucionalizada de discriminação. Enquanto se camufla sob o pretexto da “equidade”, este método reforça estigmas e nega às mulheres trans o direito pleno de competir com dignidade. É um retrocesso perigoso.


A luta das pessoas trans por espaço no esporte profissional é antiga e, muitas vezes, solitária. A atleta de vôlei Tiffany Abreu, por exemplo, foi a primeira mulher trans a jogar na Superliga Feminina do Brasil. Apesar de seguir todas as regras internacionais sobre níveis hormonais, ela enfrentou uma onda de ataques transfóbicos e teve seu talento constantemente colocado em dúvida, como se sua presença fosse uma “ameaça” à justiça esportiva — quando, na verdade, sua história é um símbolo de resistência, coragem e amor ao esporte.


Ao invés de discutir a presença de atletas trans com base em mitos e medos, deveríamos estar celebrando sua existência e revendo estruturas excludentes. Incluir não é apenas permitir a presença — é acolher plenamente, com dignidade, respeito e igualdade de condições.

Fora da Inglaterra, o debate avança com diferentes abordagens. Na Espanha, a Real Federação Espanhola de Futebol já permite a participação de pessoas trans em categorias que correspondem à sua identidade de gênero, com critérios claros e mais inclusivos. Nos Estados Unidos, a política varia entre estados e divisões, mas há ligas que permitem a participação de atletas trans sem tantas restrições. No futebol universitário, por exemplo, a NCAA (associação universitária norte-americana) permite que mulheres trans joguem após um ano de tratamento hormonal, sem exigir observação de desempenho.


É possível — e necessário — construir políticas esportivas que valorizem a diversidade sem reforçar a vigilância e a exclusão. A ciência deve servir à inclusão, não à opressão. E o esporte, espaço de superação e união, não pode compactuar com o preconceito.


Incluir é dar oportunidade. Vigiar é excluir. Que lado o futebol profissional vai escolher?


Sobre o autor


José Roberto Medeiros do Nascimento - www.joseroberto.jor.br | @JoseRobertoMN24

Caroca de 41 anos, Fundador do Camisa 24, do Jornalismo 24 e do Orgulho Torcedor. Historiador formado pela Universidade Gama Filho, Jornalista formado pela FACHA. Homossexual, apaixonado por futebol, torcedor do Flamengo. Militante por um mundo mais justo e livre de preconceitos desde 1997. Atuou no movimento estudantil por mais de uma década, trabalhou com a institucionalidade e há quase 15 anos trabalha com comunicação sindical e partidária. Atualmente participa de coletivos que lutam pela democracia, popularização e diversidade no esporte cujo nome não será citado, pois as opiniões expressas no Camisa 24 não representam nenhum partido, coletivo, entidade ou coisa do gênero. Representam apenas a opinião de quem as escreve, no caso desse texto o Jornalista e Historiador, José Roberto

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