Flamengo volta ao Maranhão após 10 anos
- joserobertomedeiro
- 18 de jan.
- 4 min de leitura

A volta do Flamengo ao Maranhão, depois de mais de uma década, acontece sob uma nuvem de descontentamento e desrespeito à sua gigantesca torcida nordestina. Em recentes partidas em Aracaju e Campina Grande, a presença de público foi decepcionante, com menos de 10 mil torcedores. A razão? Preços de ingressos abusivos para assistir a uma equipe alternativa, composta por jogadores afastados da pré-temporada principal e atletas do Sub-20, incluindo o desconhecido atacante Carlinhos. O Flamengo levou ao Nordeste um time alternativo e tratou os torcedores do Nordeste sem o devido respeito mais uma vez.
Já alertamos no artigo “O Nordeste Exige Respeito, Flamengo” sobre a postura da diretoria em relação aos torcedores fora do eixo Rio-São Paulo (clique AQUI para ler). O Portal Camisa 24 e o Núcleo Rubro Negro do Espaço Orgulho Torcedor defendem que, como clube de dimensão nacional, o Flamengo tem o dever de realizar partidas em regiões como o Norte e Nordeste ao longo do ano, demonstrando respeito às suas torcidas locais. Ser um time nacional traz vantagens e também responsabilidades! Nossa pauta também inclui a democratização do clube e o fortalecimento de torcedores OFF Rio, incentivando sua associação e inclusão nos processos decisórios. O futebol pertence a todos, todas e todes — não é mais admissível que apenas homens brancos, ricos e heterossexuais determinem os rumos da paixão de uma nação como o Flamengo.
Mais do que nunca, é fundamental que a torcida rubro-negra se organize para exigir maior participação popular nas decisões do clube. A abertura democrática e a ampliação do colégio eleitoral são medidas essenciais para que o Flamengo, de fato, represente o povo que o sustenta. Um clube que se orgulha de suas origens populares não pode se curvar a interesses elitistas. Precisamos lutar para que todos os torcedores, independentemente de sua localização ou condições financeiras, tenham voz nas políticas rubro-negras.
Cancelamento do jogo na Arena das Dunas é mais um capítulo na série de desrespeitos institucionais que a Diretoria promove para com os Flamenguistas Nordestinos.
O Maranhão aguarda ansiosamente a volta do Flamengo desde novembro de 2014. Na ocasião, o Flamengo jogou contra o Criciúma, em partida que terminou 1 a 1 e selou o rebaixamento do time catarinense (assista abaixo os melhores momentos e veja o estádio lotado para ver o Flamengo).
Agora, os Rubro-Negros Maranhenses poderão ver o Flamengo em Campo em dose dupla, pois o time carioca mandará no Castelão os confrontos contra o Nova Iguaçu e. Bangu, pelas duas próximas rodadas do Campeonato Carioca. Mas o que deveria ser uma celebração da massa rubro-negra transforma-se em um teste de paciência: ambas as partidas contarão com o time alternativo e com ingressos em valores exorbitantes.
A situação se agrava com o absurdo cancelamento da partida contra o Nova Iguaçu em Natal, Rio Grande do Norte, já com ingressos vendidos. Sem explicações claras, o Flamengo optou por transferir o confronto para o Castelão, em São Luís. Para os torcedores, uma afronta à organização e ao compromisso mínimo de respeito que deveriam ser práticas básicas de um clube popular.E a ausência de explicações torna ainda maior o desrespeito dos organizadores e da diretoria rubro-negra com o povo Potiguar e os Flamenguistas do Rio Grande do Norte.
Ingressos abusivos são afronta à realidade sócio-econômica do Maranhão!
Falando em respeito, não há como ignorar o contraste entre o custo dos ingressos e a realidade socioeconômica local. O Maranhão possui um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país. Enquanto ingressos para Flamengo x Nova Iguaçu variam entre R$ 120 e R$ 200 (inteira), os antecipados para Flamengo x Bangu alcançam de R$ 220 a até R$ 400. Esses valores são um insulto à maior torcida maranhense e um ataque ao papel social do futebol.
O Flamengo é a maior paixão popular no Maranhão, com 38,9% da torcida local — cerca de 2,6 milhões de pessoas. No entanto, o clube impõe barreiras financeiras que o distanciam de sua própria base. O futebol é mais do que um negócio: é cultura, é história e, acima de tudo, é um direito social. Ao longo de 10 anos sem visitar um estado tão apaixonado, o Flamengo perdeu uma oportunidade preciosa de se reconectar com suas origens.
O Flamengo, afinal, é o clube que canta "Festa na Favela" e carrega em seu DNA a identidade do povo, com 72% de sua torcida fora do Sudeste brasileiro. Desde os anos 1930, a popularização e nacionalização do Mais Querido transformaram o time em um fenômeno de massa, movendo multidões por onde passa.
O Flamengo não pertence a dirigentes ou donos de títulos de sócios; pertence ao povo. É a alma rubro-negra que dá vida a essa paixão inigualável e o torna um símbolo eterno de luta e resistência popular. Por mais que os engravatados do Leblon tentem, nenhuma diretoria elitista conseguirá afastar o Flamengo de suas raízes. O dia chegará em que derrubaremos os muros da exclusão e traremos inclusão, diversidade, democracia e o verdadeiro espírito popular para dentro do clube. Afinal, o Flamengo é, e sempre será, do povo.
Sobre o autor
José Roberto Medeiros do Nascimento - www.joseroberto.jor.br
Caroca de 40 anos, Fundador do Camisa 24, do Jornalismo 24 e do Orgulho Torcedor. Historiador formado pela Universidade Gama Filho, Jornalista formado pela FACHA. Homossexual, apaixonado por futebol, torcedor do Flamengo. Militante por um mundo mais justo e livre de preconceitos desde 1997. Atuou no movimento estudantil por mais de uma década, trabalhou com a institucionalidade e há quase 15 anos trabalha com comunicação sindical e partidária. Atualmente participa de coletivos que lutam pela democracia, popularização e diversidade no esporte cujo nome não será citado, pois as opiniões expressas no Camisa 24 não representam nenhum partido, coletivo, entidade ou coisa do gênero. Representam apenas a opinião de quem as escreve, no caso desse texto o Jornalista e Historiador, José Roberto
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